Prevenção de enfermidades em peixes - Autor: Rodrigo Mabilia & Ricardo Assunção
Este material foi elaborado com
muito carinho para amigos, colegas, visitantes e todos os demais aquaristas e
colaboradores que participam deste fórum. A idéia de colocar disponível foi
motivada, não somente, pelos inúmeros problemas e dúvidas relacionados às
enfermidades de peixes ornamentais, mas também pela preocupação com a quantidade
de produtos terapêuticos que temos que recomendar para o tratamento das mais
diversas doenças quase que diariamente. Gostaríamos de compartilhar um ponto de
referência com todos vocês deixando a seguinte mensagem: a prevenção é o melhor
remédio. Baseado neste ponto de referência não iremos aqui prescrever
medicamentos nem doses terapêuticas. Iremos oferecer boas práticas de manejo que
auxiliem vocês a prevenir doenças em seus peixes ornamentais. Como bons
aquaristas, devemos sempre buscar o equilíbrio perfeito entre o meio ambiente
que criamos e os seus preciosos habitantes. Quem conseguir este feito estará de
parabéns, pois será um aquarista de sucesso e exemplo para muitos outros
iniciantes no hobby.
SUMÁRIO
1.0 - Fatores predisponentes ao aparecimento de doenças em
peixes ornamentais
Rodrigo G. Mabilia
2.0 - Cuidados durante a aquisição de peixes ornamentais
Rodrigo G. Mabilia & Ricardo Assunção
3.0 - Quarentena
Rodrigo G. Mabilia
4.0 - Certificação sanitária
Rodrigo G. Mabilia
5.0 - Manutenção da qualidade da água
Ricardo Assunção
6.0 – Alimentação
Rodrigo G. Mabilia & Ricardo Assunção
7.0- Restrições no uso de antibióticos
Rodrigo G. Mabilia
1.0- Fatores
predisponentes ao aparecimento de doenças em peixes ornamentais
Autor: Rodrigo G. Mabilia
São inúmeros os fatores que predispõe o aparecimento de doenças nos peixes
ornamentais. Aqui iremos abordar os principais, segundo um trabalho realizado
com a colaboração de lojas de aquarismo na cidade de São Paulo. Espero que os
fatores aqui citados dêem margens para refletirmos desde os mais simples do
nosso dia a dia até os mais complexos que muitas vezes nos esquecemos de dar a
devida importância. Acredito que este trabalho tenha sido muito útil e gostaria
de dividir com vocês. Após a leitura poderemos nos perguntar se estamos cuidando
para que estas situações ocorram, ou não em nossos aquários.
Fator 1 Qualidade de água
-PH e temperatura
-Amônia e Nitritos
Este fator, seguramente é um dos mais importantes na prevenção de doenças em
peixes ornamentais. O aquarista não precisa ser nenhum “expert” em qualidade de
água, mas tem a obrigação de conhecer as preferências das espécies que possui.
Caso contrário, mais cedo, ou mais tarde uma catástrofe poderá ocorrer em seu
aquário. Parâmetros inadequados de qualidade de água causam estresse nos peixes,
pois interferem diretamente no seu equilíbrio fisiológico. A resposta do peixe a
este estímulo estressor (má qualidade de água) será uma queda da sua imunidade
em virtude de uma série de alterações hormonais. O resultado disto é a referida
“catástrofe”, ou seja, ação facilitada de diversos agentes patogênicos. Existem
no mercado excelentes produtos tanto para condicionar a água de nossos aquários,
como para monitorar seus parâmetros de qualidade. Neste momento é que entra o
papel de um bom e honesto lojista. Ele deverá recomendar os produtos adequados
de acordo com a necessidade do aquarista.
-pH e Temperatura: parâmetros de pH e temperatura, muitas vezes são observados
como incompatíveis, ou melhor, fora da zona de conforto para determinadas
espécies. Para contornar problemas deste tipo basta um medidor de pH e um bom
conjunto de aquecedor-termostato. Conhecer a zona de conforto de pH e
temperatura das espécies que queremos ter em nossos aquários é um pré-requisito
anterior ao povoamento e pode evitar o aparecimento de algumas doenças. Para
isto, basta uma consulta rápida na internet, um colega aquarista, ou um lojista
bem informado. Se preferirmos carpas e kinguio, por exemplo, temperaturas mais
baixas são bem vindas. Já para peixes tropicais as temperaturas baixas se tornam
um grande problema. Quem mora em regiões de clima subtropical e temperado que
diga o tamanho deste problema. No verão vai tudo bem. Temos peixes faceiros e
bem ativos. No outono e inverno os mais desavisados são surpreendidos quando
seus peixes aparecem com manchas e pontos brancos distribuídos em todo seu
corpo. Sem falar no coça-coça sobre as pedras. Não é à toa que o íctio (sinais
clássicos referidos acima) é a doença parasitária mais disseminada no aquarismo
em todo o mundo e está intimamente relacionada a baixas temperaturas. Outro bom
exemplo serve para os aspirantes a aquários de ciclídeos africanos. Para vocês
valem os cuidados com o pH e alcalinidade (dureza parcial). Ciclídeos africanos
adoram um pH bastante alcalino associado a uma relativa dureza.
-Amônia e nitritos: quanto aos níveis de amônia e nitritos estes muito
freqüentemente estão acima dos níveis aceitáveis pelos peixes. Vou me reservar à
amônia, pois esta é até 100 vezes mais tóxica para peixes do que o nitrito. Não
me refiro somente aos níveis letais e subletais, já que estes são mais
facilmente detectáveis. Refiro-me a níveis menores, mas que já ocasionam certo
desconforto e predispõe a doenças. Existem doenças bacterianas que ocorrem
justamente quando os níveis de amônia estão elevados. Bactérias do gênero
Aeromonas e Pseudomonas estão entre as campeãs de diagnósticos. Outro problema
decorrente dos elevados níveis de amônia deve-se a toxicidade da amônia não
ionizada. Os peixes eliminam a amônia através da urina e brânquias. Talvez esta
segunda via seja desconhecida pela maioria das pessoas, mas ela é muito
significativa também. Esta amônia é eliminada pelas brânquias passivamente.
Agora, eu gostaria de deixar bem claro que ela só será eliminada adequadamente
caso os níveis de amônia na água estiverem baixos. É o velho e bom esquema do
mais concentrado para o menos concentrado. Imaginem o tamanho do “pepino” caso o
peixe tiver que eliminar a amônia num ambiente onde ela já esteja abundante.
Bom, ele não elimina. Ao menos não elimina o que deveria e isto implica em
sérios danos para as brânquias (lesões) e ao organismo de maneira geral. Ele
terá uma toxemia pelo acúmulo de amônia no sangue e morrerá mais cedo, ou mais
tarde. Se não morrer, será um sobrevivente exposto a uma grave condição
estressante. Para resolver problemas relacionados com a qualidade de água sugiro
conferir o item 5.0 que aborda a manutenção da qualidade de água. O Ricardo com
toda sua experiência no aquarismo irá deixar boas dicas práticas relacionadas a
tipos de filtragem e trocas parciais de água. Pra finalizar vou dar um conselho:
procure sempre conhecer o habitat natural de procedência dos futuros habitantes
de seu aquário. Aquários amazônicos, de ciclídeos africanos, killifishes e
ciprinídeos, quando programados adequadamente para recebê-los, são muito mais
originais e bem recebidos pelos seus habitantes.
Fator 2
Transporte
O transporte dos peixes também é um fator desencadeante de estresse e predispõe
ao aparecimento de enfermidades em peixes ornamentais. É bom salientar que
peixes que não são portadores de um agente parasitário, por exemplo, tendem a
suportar melhor o transporte em relação a peixes parasitados. O problema é que
uma grande parte dos peixes ornamentais comercializados possuem parasitas sem
manifestar doença. Em um simples exame visual não podemos detectar alterações.
Mas basta uma série de erros durante o transporte e aclimatação que em poucos
dias “estoura” uma infestação parasitária. Uma boa maneira de evitar este tipo
de situação é dar preferência de escolha para peixes que já estão a mais tempo
na loja. Estes peixes já sofreram um processo de adaptação e tendem a apresentar
menos problemas que peixes recém chegados. Isto vale, principalmente para peixes
silvestres que sofreram um processo de coleta/captura. Estes últimos necessitam
um período melhor para se recuperarem do estresse pós-transporte.
Abaixo está disponível a relação de inúmeras condições desfavoráveis que
desencadeiam o estresse em peixes ornamentais decorrentes de erros de
transporte:
- tempo excessivo de transporte (algumas vezes superior a 24 horas);
- alta densidade de peixes;
- oscilação de temperatura pela falta de isolamento térmico das embalagens;
- falta de oxigênio dissolvido na água;
- agitação excessiva das embalagens;
- falta de jejum prévio dos peixes antes do transporte.
Fator 3
Aclimatação
A aclimatação dos peixes é uma etapa muito delicada e exige um pouco de
paciência. Podem ter certeza que os benefícios são enormes para seus peixes.
Pegar um peixinho de sua embalagem com puçá e colocá-lo imediatamente no aquário
gera um grande desconforto. Em alguns casos como o peixe borboleta pode levar
até a morte súbita se houver mudança brusca de ambiente. Isto demonstra
diferentes graus de sensibilidade entre as espécies de peixes ornamentais. A
observação mais comum para identificarmos um erro na aclimatação é quando os
peixes soltos no aquário imediatamente procuram refúgio, permanecem assustados,
com respiração/movimentos operculares acelerados e coloração pálida. Isto tudo
se deve a um estímulo estressor desnecessário que deve ser amenizado ao máximo.
A prática mais comum e que possui um bom resultado é colocar as embalagens ainda
fechadas dentro do aquário para, primeiramente, igualar a temperatura da água.
Para uma boa aclimatação isto não é o suficiente e tornam necessário abrir a
embalagem e colocar para dentro gradualmente um pouco da água do aquário. Este
procedimento deve durar até 30 minutos, mas sua duração irá depender obviamente
da grandeza das diferenças entre temperatura, pH e dureza. É conveniente então
ter em mãos os valores físicos químicos de água, tanto da embalagem, como do
aquário.
2.0- Cuidados
durante a aquisição de peixes ornamentais
Autor: Rodrigo G. Mabilia & Ricardo Assunção
O maior cuidado que devemos ter durante a aquisição de um peixe ornamental é,
sem dúvida alguma, o risco de introduzir uma doença infecciosa, ou parasitária
no aquário. O ideal seria se tivéssemos a garantia de peixes sadios durante a
compra. E não portadores de um determinado patógeno como acontece muitas vezes.
Um peixe com “garantia de fábrica”. Que tal? Bom, a biologia não funciona assim,
ainda mais com o esforço tremendo que o homem faz para que o peixe realmente
desenvolva uma doença. São tantos erros desde a captura e/ou criação até o
momento em que chegam aos distribuidores, lojas e finalmente na casa do
aquarista. Isto tudo mais parece um filme de terror. E onde é que fica a cena do
bem estar animal ?
Bom, vamos deixar o lado feio de lado e nos preocuparmos de fato com a
procedência de nossos peixes. Assim, volto a citar o bom e honesto lojista. É
nele e na sua loja que devemos apostar nossas fichas. Observe seus aquários,
peixes e tudo o que está a sua volta. Tem aquário sujo? Tem peixe morto? Peixe
moribundo? Os vendedores são atenciosos? Respondem tuas perguntas? Correspondem
as tuas expectativas? Tiram tuas dúvidas? As tuas respostas te dirão com certeza
se você está, ou não no lugar certo. Isto tudo representa o que chamamos de
fornecedor idôneo. O mesmo vale se comprarmos os peixes diretamente do criador.
Todos eles devem atender nossas expectativas.
Uma boa dica na hora da compra é observar o comportamento do peixe que vamos
comprar. Peça para o vendedor alimentá-los na tua presença. Aproveita e dê uma
conferidinha na ração que ele está fornecendo. Existe aquele ditado “diga com
quem andas que te direi quem és”. Retruque este ditado com o seguinte “mostre-me
a ração que usas que te direi quem és”. Abaixo preparei uma lista de
características a serem observadas durante a compra. Num primeiro momento
parecem óbvias, mas as vezes ficamos tão desbaratinados na hora de observar os
peixes no aquário que mal conseguimos perceber algumas alterações compatíveis
com doença.
Evite peixes com as seguintes características:
- peixes magros;
- peixes sem apetite;
- natação irregular;
- apáticos e sem brilho;
- nadadeiras roídas, fechadas, de cor opaca, ou manchas esbranquiçadas;
- manchas, ou pontos brancos sobre a pele;
- escamas eriçadas;
- abdômen muito distendido, ou volumoso;
- deformidades na coluna;
- olhos opacos e esbranquiçados;
É importante observar as características particulares de cada espécie. Podemos
tomar como exemplo muitas variedades de Kinguios que possuem uma natação
irregular em razão da sua morfologia externa (tamanho de suas nadadeiras,
conformação do abdômen etc...).
3.0 Quarentena
Autor: Rodrigo G. Mabilia
A quarentena é uma prática muito discutida, mas pouco empregada no aquarismo.
Acredito que um dos grandes motivos que impedem de executá-la deve-se à
necessidade de espaço apropriado. Nem todo aquarista possui um aquário de
quarentena para receber e pré-aclimatar seus peixes antes de colocar em
definitivo no seu aquário. Eu vou aproveitar e deixar claro aqui que esta não
deveria ser uma preocupação do aquarista. A quarentena em si, deveria ser uma
prática executada nos estabelecimentos de comercialização. Ou então nem
praticada, caso os peixes comercializados possuíssem certificação sanitária. Um
bom período de quarentena na verdade não necessita 40 dias como inicialmente era
a finalidade deste procedimento. Algo em torno de 7 dias já é capaz de reduzir e
muito a introdução de peixes com doenças infectocontagiosas. Se for possível
exceder este tempo para 14 dias melhor ainda. Nesta quarentena a qualidade da
água deve ser monitorada, assim como a oferta de uma boa ração comercial. Evitem
durante a quarentena pastas, ou patês. Peixes que não permanecerem ativos, com
bom apetite devem ser isolados para um possível tratamento. Da mesma maneira
peixes com alguma alteração de pele, nadadeiras e emagrecimento devem ser
isolados. Este procedimento pode ser aplicado, tanto nas lojas de aquarismo,
como pelo próprio aquarista. O limitante, já citado, é a disponibilidade de
espaço para praticá-la.
Agora vou extrapolar um pouco na questão da quarentena. Quando aplicada a lotes
inteiros de peixes em criações, ou grandes estabelecimentos de comercialização.
Nestes é fundamental a remoção dos peixes mortos durante o período de
quarentena. O ideal seria também separar peixes que apresentem anormalidades
para submetê-los ao que chamamos de “pente fino”, ou “varredura” no diagnóstico
de doenças parasitárias. Deve-se evitar durante a quarentena aquários, ou
reservatórios “em baterias”, pois o fluxo de água interligado é totalmente
desaconselhável sob o ponto de vista sanitário. É verdade que este é um item que
não posso argumentar sozinho. Deve ser tema de um belo debate entre criadores,
lojistas e responsáveis técnicos para buscar alternativas de praticá-la de forma
viável. Ouvir, principalmente sugestões e experiências próprias. Mas posso, ao
menos, afirmar um ponto de partida com absoluta certeza: a partir do momento que
um peixe é comercializado ele não pode jamais carregar consigo uma doença
infectocontagiosa. Se um peixe foi comercializado nestas condições posso supor
duas coisas: negligência e desconhecimento por parte de quem comercializou; ou
falta de honestidade.
Trago uma experiência ruim minha aqui de Porto Alegre numa ocasião em que estava
coletando peixes doentes em lojas para um trabalho de levantamento da ocorrência
de parasitoses em peixes ornamentais. Num determinado estabelecimento, ao
contrário dos demais, o proprietário sentiu-se profundamente ofendido com o
propósito do trabalho mesmo depois de uma minuciosa explicação dos objetivos,
comprometimento com sigilo e retorno gratuito de um laudo técnico como forma de
retribuição. Entre os argumentos do pobre lojista consta várias pérolas tais
como: “Peixe ornamental é assim mesmo”. “Eles morrem por qualquer coisinha”. “E
depois, se não morrerem dae sim que o cliente não volta mais mesmo”. Bom, já que
trouxe uma experiência ruim não posso deixar de trazer também algo positivo.
Posso dizer que muitas pessoas compreenderam a importância deste trabalho e
ajudaram e muito para que pudesse se concretizar. Comprometi com a publicação
destes resultados para mostrar de forma bem objetiva quais as doenças
parasitárias (em percentual) que mais ocorrem em peixes ornamentais
comercializados. A idéia é que seja uma ferramenta útil na orientação da
prevenção destas doenças, uma vez que conhecemos quais as mais comuns. Quem sabe
não aprontamos para um novo tópico fixo...
4.0 Certificação Sanitária
Autor: Rodrigo G. Mabilia
A certificação sanitária é uma prática emergente na aquacultura. É emitida
somente por Médicos Veterinários que acompanham o processo de produção, examinam
os lotes através de técnicas avançadas de diagnóstico e confeccionam um laudo
que garante a ausência de agentes patogênicos. Achei interessante valorizar este
item, pois faz parte do meu dia a dia e morro de paixões pelo que faço. O
objetivo desta certificação sanitária é garantir a sanidade dos peixes
comercializados, bem como sua procedência. Na piscicultura, propriamente dita,
já existe uma conscientização da sua importância no processo comercialização de
reprodutores e alevinos. Em peixes ornamentais ainda está obscura e pouco
divulgada. Nem todas as pessoas envolvidas com o aquarismo e a piscicultura
ornamental tem consciência de sua importância, porque alegam que representam
aumento nos custos. Eu penso ao contrário e acredito que a relação custo
benefício é favorável. Na situação atual da cadeia produtiva do peixe ornamental
o que representa um aquarista pagar R$ 1,00 um plati ? Para o aquarista,
financeiramente, não representa nada a não ser a possibilidade de levar de
brinde um agente patogênico para seu aquário. Agora, não compensa pagar um pouco
mais (2 ou três reais talvez) por este mesmo plati, se ele apresentar uma
certificação sanitária ? Claro que sim !!! Se eu estiver enganado alguém me
corrija vai... E o lojista se interessaria por isso ? Claro que sim!!! Me
corrijam novamente... Se por um lado ele vai pagar um pouco mais pelo plati, vai
também vender mais caro ora. E o melhor de tudo isso ? Vai ter peixes de
qualidade muito superior e cliente satisfeito. Isto tudo por um simples e
fascinante plati. Agora, e um Disco de R$ 500,00 ? Cabe uma certificação
sanitária? Conheço muita gente que não paga mais por um peixe ornamental, porque
tem medo que ele morra. Eu não gosto nenhum pouco da falta de confiança que
muitas pessoas tem a respeito da comercialização de peixes ornamentais. Cansei
de ouvir a frase: nossa!! Tudo isso por um peixinho ??? E se ele morre ?
Vou contar uma história verídica. Eu tenho um amigo de infância, o Roberto.
Conheço ele desde os 4 anos de idade. Ele tem uma instalação onde cria kribensis,
discos e lebistes. Coisa mais linda. Os peixes dele são 100% certificados por
mim quando há necessidade. Agora, confesso que nós sentimos na pele muitas vezes
de não sermos valorizados. Tem lojista que não paga R$ 3,50 por um casal de
guppy mesmo com toda a qualidade que o Roberto investiu. Curiosamente estes
mesmo lojistas adoram recomendar uns saquinhos com ração que vendem a R$ 1,99.
Assim não dá né?
5.0 - Manutenção da qualidade da água
Autor: Ricardo Assunção
- Filtragem e as trocas parciais.
A filtragem e a dedicação do aquarista são um dos pontos mais importantes para o
sucesso de um aquário saudável. Não adianta querer economizar alguns reais na
filtragem para depois ter perdas em peixes e plantas. A preguiça de prolongar os
períodos para trocas parciais têm que estar longe. Procure uma filtragem que
seja eficiente e o suficiente para o seu aquário. Acho importante a filtragem
biológica e mecânica, sendo que a química eu não sugiro para aquários plantados
já ciclados biologicamente. Controlando a quantidade de alimentos oferecidos,
tendo uma filtragem suficiente e a população no tanque sendo ideal, você poderá
fazer trocas parciais semanais, trocando cerca de 20% ou ainda quinzenais
trocando cerca de 30%. Vale lembrar que a nova água deverá estar com a mesma
temperatura da água do aquário e o mesmo Ph.
-Dose Preventiva
Eu não sou formado em medicina veterinária, e muito menos tenho a pretensão de
ir contra as empresas que desenvolvem produtos químicos para o tratamento de
alguma doença. Agora, o que eu não sugiro e sempre digo para NÃO FAZER é quanto
às doses preventivas indicadas nas bulas de remédios para peixes ornamentais.
Não vejo essa atitude como útil ao aquário e muito menos aos peixes. É
prejudicial adicionar elementos químicos nos aquários para evitar doença. Alguns
elementos químicos podem destruir principalmente a filtragem biológica e ao
invés de você estar de fato protegendo seus peixes, na verdade eles estarão
vulneráveis às doenças uma vez que a filtragem se tornou ineficaz. Quando houver
a real necessidade do uso de algum produto químico para tratamento de algum
peixe, que este seja utilizado em um aquário hospital.
6.0 –
Alimentação
Autor: Rodrigo G. Mabilia & Ricardo Assunção
Iremos ser breves neste item, uma vez que deveria ser enquadrado em um tópico
fixo exclusivo em razão da sua importância e complexidade. A alimentação de
peixes ornamentais junto com a qualidade de água é sem dúvida o maior pilar do
aquarismo mundial. O ponto de partida para não errar na alimentação de nossos
peixes é conhecer seus hábitos alimentares e exigências nutricionais. A
indústria brasileira de nutrição de peixes ornamentais deu um grande salto nos
últimos 10 anos e busca ganhar mercado e igualar-se a qualidade oferecida pelas
suas concorrentes importadas. Não iremos expressar preferências particulares
aqui, mas podemos garantir que na maioria das vezes o barato sai caro. É a boa
qualidade dos ingredientes de uma ração, sua estabilidade na água, composição
mineral e vitamínica os grandes responsáveis por preservar peixes saudáveis e
mais resistentes a ação de agentes patogênicos. O crescimento, atividade,
reprodução e exuberância de cores também são intimamente relacionados a
qualidade da dieta fornecida. Tão importante quanto escolher a marca da sua
ração é respeitar a diversidade de suas linhas. Existem rações com linhas
específicas que procuram atender as exigências nutricionais de espécies, ou
grupo de espécies. São elas: rações para lebistes, rações para kinguios, carpas,
ciclídeos africanos, discos etc...
Outro aspecto importante na alimentação de peixes ornamentais é a oferta de
alimentos vivos. Artêmias vivas, por exemplo, são muito atrativas aos peixes e
fornecem um bom incremento de proteína de alta qualidade em suas dietas.
7.0- Restrições
no uso de antibióticos
Autor: Rodrigo G. Mabilia
O uso de antibióticos no aquarismo para o tratamento de doenças é muito comum.
Há uma necessidade de restrição de seu uso. Inicialmente vou lembrar que
antibiótico deve ser usado exclusivamente para tratamento de infecções
bacterianas. Há muito tempo vejo gente recomendando antibiótico para problemas
atribuídos a parasitas, fungos entre outros. Não funciona, com exceção do
metronidazol que tem ação contra bactérias e a alguns protozoários do trato
digestivo
- ATB e a filtragem biológica: freqüentemente o pessoal quer saber se um
produto, ou outro interfere na filtragem biológica. Sugerimos não medicar peixes
preventivamente, pois muitos princípios ativos interferem com a filtragem
biológica do aquário. Assim, ao invés de “proteger” seus peixes você estará
causando um desequilíbrio biológico que comprometerá a qualidade de água. Para o
caso dos antibióticos este desequilíbrio representa e muito. Se a sua intenção é
preservar a biologia de seu aquário não use ATB. Tratamento para infecções
bacterianas deve ser realizado em aquário hospital em tempo integral, ou seja, o
peixe permanecerá no aqua hospital até o final do tratamento.
- ATB resistência bacteriana: este é um problema que temos observado em peixes.
O que é resistência bacteriana ? Em síntese é o que ocorre quando um antibiótico
não funciona mais para uma determinada espécie, ou grupo de bactérias. Com o
passar do tempo as bactérias são capazes de “driblar” o mecanismo de ação de um
determinado antibiótico e então a infecção persiste tornando-se fatal para o
hospedeiro. A tetraciclina em peixes ornamentais é um bom exemplo para o
aquarismo. O uso indiscriminado deste antibiótico faz com que muitos tratamentos
de infecções bacterianas não tenham mais sucesso por haver bactérias resistentes
a este antibiótico. O uso de dosagens inadequadas e falta de critérios no
intervalo de suas aplicações foi um dos grandes contribuidores para a ocorrência
de casos de resistências a este ATB. Na medicina e na medicina veterinária
atualmente já existem as perigosas superbactérias. Pessoal, quero deixar claro
uma coisa: tratamentos onde se aplica um comprimido na água e era isso não tem
mais lugar no aquarismo. Nenhum, repito, nenhum tratamento com ATB pode ser
inferior a 10 dias mesmo que os peixes estejam aparentemente curados. Deve-se
calcular a dose correta de acordo com a via de administração (banho, ração, ou
injetável). O problema é tão grave que não recomendo usar ATB por conta própria.
Vocês devem estar perguntando o que tem este item a ver com prevenção, não é? Eu
digo que tem tudo a ver. Usar um ATB de maneira consciente frente a uma doença
bacteriana previne o surgimento de bactérias resistentes no futuro. Usar
indiscriminadamente, ao contrário, irá aumentar ainda mais o problema. Eu mesmo
já observei resistência bacteriana, inclusive em pisciculturas, onde lotes
inteiros de peixes estavam sendo tratados com um ATB num caso grave de infecção
bacteriana. O ATB que o proprietário utilizava não tinha mais efeito, pois a
bactéria na ocasião era resistente. Curiosamente, antes de ser chamado para
resolver o problema, ouvi falar que todos peixes que saiam da propriedade eram
embalados e recebiam uma “dosesinha” deste ATB pra ficarem “mais fortes” e não
“adoecerem”. Fizemos isolamento da bactéria em laboratório e depois fizemos um
teste de sensibilidade antimicrobiana (TSA) que verificou quais antibióticos são
eficientes para a bactéria e quais antibióticos já possuem resistência. Foi a
única maneira de descobrir o que estava acontecendo de fato. Espero não precisar
fazer isso em nenhum peixe ornamental. Juízo!
8.0
Considerações Finais
Nosso objetivo é de informar o quanto é importante prevenir. É o velho ditado:
“Melhor prevenir do que remediar”. Também vale lembrar um outro ditado: “O
barato custa caro”. É importante comprar um peixe em uma loja idônea, e mantê-lo
em um aquário de quarentena. Saber as características da espécie, quanto
principalmente aos hábitos alimentares, compatibilidade e Ph. Observar o seu
comportamento antes de passá-lo para o aquário principal, assim, evitando
possíveis doenças. Um aquário bem montado, com os materiais necessários, uma boa
alimentação e uma manutenção correta, isso tudo evita doenças.